Festas Juninas — Tempo de Fogueira, Quadrilha, Quentão, Bolo de Fubá...

Mês de Junho, época das tradicionais Festas Juninas, com fogueiras, balões, bandeirinhas, quadrilhas, forrós, bingos, casamentos caipiras, brincadeiras, dança e barracas com comida típica de cada região, como canjica, bolo de fubá, pamonha, curau, milho cozido, pipoca, arroz doce, cuscuz e, é claro, aquele quentão e vinho bem quentinho.
 
As Festas Juninas conhecidas também como Festas dos Santos Populares são celebrações católicas que acontecem em vários países e que são historicamente relacionadas com a festa pagã do solstício de verão (no hemisfério norte) e de inverno (no hemisfério sul), que era celebrada no dia 24 de junho. Cristianizada na Idade Média, tornou-se a Festa de São João. Outros dois santos católicos populares celebrados nesta mesma época são São Pedro e São Paulo (no dia 29) e Santo Antônio (no dia 13).
 
Segundo historiadores, o nome  “junina”, tem duas hipóteses, uma que pode vir de "São João", nome de um dos santos homenageados, através do termo "joanina" e, a outra, que pode vir de "junho", mês em que as festas são celebradas.
 
A tradição de comemorar o dia de Sao João veio de Portugal, onde as festas são conhecidas pelo nome de santos populares e correspondem a diversos feriados municipais, tais como Santo Antônio, em Lisboa; São Pedro, no Seixal; São João, no Porto, em Braga e em Almada.
 
A fogueira, símbolo marcante das festas juninas, é uma tradição de origem pagã, que servia para comemorar o solstício de verão no hemisfério norte. Assim, a fogueira do dia de Midsummer (25 de junho) tornou-se, pouco a pouco, na Idade Média, um atributo da festa de São João Batista, o santo celebrado nesse mesmo dia, o que fez com que a fogueira de São João, até hoje, represente o traço comum que une todas as Festas de São João Europeias (da Estônia a Portugal e da Finlândia à França).
 
Vale ainda dizer que para cada santo há um tipo de fogueira diferente. Na fogueira de São João as madeiras são colocadas em formato de cone. Na fogueira de Santo Antônio, as madeiras são colocadas em formato de quadrado. Já na fogueira de São Pedro, as madeiras ficam na posição de triângulo.
 
Diz uma lenda católica,  que o antigo costume de acender fogueiras no começo do verão europeu teve suas raízes em um acordo feito pelas primas Maria e Isabel. Isabel teria de acender uma fogueira sobre um monte, para avisar Maria sobre o nascimento de São João Batista e, assim receber seu auxílio após o parto.
 
O uso de balões e fogos de artifício durante o São João no Brasil está relacionado com o tradicional uso da fogueira junina e seus efeitos visuais. Este costume foi trazido pelos portugueses para o Brasil e se mantém em ambos os lados do Oceano Atlântico, sendo mais usado na cidade do Porto, em Portugal onde soltavam 5 balões para anunciar o início da festa de São João. No Brasil, por causa do risco de incêndio, os balões estão proibidos por lei, mas em muitas festas juninas são usados apenas como elementos decorativos.
 
Fogos de artifício manuseados por pessoas privadas e espetáculos pirotécnicos organizados por associações ou municipalidades tornaram-se uma parte essencial da festa na Região Nordeste do Brasil, em outras cidades do Brasil e também em Portugal. Os fogos de artifício, segundo a tradição popular, servem para despertar São João Batista. Em Portugal, pequenos papéis são atados no balão com desejos e pedidos.
 
Durante todo o mês de junho, é comum, principalmente entre as crianças, soltarem bombas, conhecidas como traque, chilene, cordão, cabeção-de-negro, cartucho, treme-terra, rojão, buscapé, cobrinha, espadas-de-fogo, chuvinha, pimentinha, bufa-de-vei e bombão.
 
A dança de quadrilha é um dos momentos mais importantes das Festas Juninas.  A quadrilha brasileira tem o seu nome originário numa dança de salão francesa para quatro pares, a quadrille, em voga na França entre o início do século XIX e a Primeira Guerra Mundial. Veio para o Brasil atendendo o interesse da classe média e das elites portuguesas e brasileiras do século XIX. 
 
Popularizou-se ao longo do século  no Brasil e se fundiu com danças brasileiras preexistentes, criando  subsequentes evoluções, entre elas, o aumento do número de pares e o abandono de passos e ritmos franceses.
 
Ainda que, inicialmente, foi  adotada pela elite urbana brasileira, esta é uma dança que teve o seu maior florescimento no Brasil rural, daí o vestuário campesino, tornando-se uma dança própria dos festejos juninos, principalmente no Nordeste.
 
A partir daí a quadrilha, como outras danças brasileiras, inclusive o pastoril, foi sistematizada e divulgada por associações municipais, igrejas e clubes de bairros, sendo também defendida por professores e praticada por alunos em colégios e escolas, na zona rural ou urbana, como sendo uma expressão da cultura cabocla e da república brasileira. Esse folclorismo acadêmico e ufano explica, duma certa maneira, o aspecto matuto rígido e artificial da quadrilha.
 
Os participantes da quadrilha, coordenados por um marcador que determina as evoluções que os dançadores devem executar e, geralmente, o par que abre o grupo são os noivos, já que o ritual matrimonial da quadrilha liga-a às festas de São João europeias que também celebram aspirações ou uniões matrimoniais. Esse aspecto matrimonial e a fogueira junina constituem os dois elementos mais presentes nas diferentes festas de São João da Europa.
 
As festas juninas brasileiras podem ser divididas em dois tipos distintos: as festas da Região Nordeste e as festas do Brasil caipira, ou seja, nos estados de São Paulo, Paraná, (norte), Minas Gerais (sobretudo na parte sul) e Goiás.
 
No Nordeste brasileiro, comemora-se  com pequenas ou grandes festas que reúnem toda a comunidade e muitos turistas, com fartura de comida, quadrilhas, casamento matuto e muito forró. Por ser uma região árida, o Nordeste agradece anualmente a São João Batista, mas também a São Pedro, pelas chuvas caídas nas lavouras.
 
Em razão da época propícia para a colheita do milho, as comidas feitas de milho integram a tradição, como a canjica, a pamonha, o curau, o milho cozido, a pipoca e o bolo de milho. Também pratos típicos das festas são o arroz-doce, a broa de milho, a cocada, o bom-bocado, o quentão, o vinho quente, o pé-de-moleque, a batata-doce,  o bolo de amendoim, o bolo de pinhão, etc.
 
É comum os participantes das festas se vestirem de matuto, os homens com camisa quadriculada, calça remendada com panos coloridos, e chapéu de palha e as mulheres com vestido colorido de chita e chapéu de palha.
 
Já na região Sudeste são tradicionais a realização de quermesses em igrejas, colégios, sindicatos e empresas.  O  interior de São Paulo é outra região conhecida pelas festividades do mês de junho, onde ainda se mantém a tradição da realização de quermesses e danças de quadrilha em torno de fogueiras. Possuem barraquinhas com comidas típicas, além de jogos e brincadeiras para animar os visitantes e, geralmente,  a dança da quadrilha, ocorre durante toda a quermesse.
 
A culinária local apresenta pratos característicos da época, como a paçoca, o pé-de-moleque, o bolinho caipira, pastéis, canjica e outros. As quermesses atraem também músicos sertanejos e brincadeiras para os mais novos.
 
Em Portugal, estas festividades, genericamente conhecidas pelo nome de "Festas dos santos populares", correspondem a diferentes feriados municipais, onde há arraiais com foguetes, assam-se sardinhas e oferecem-se manjericos, as marchas populares desfilam pelas ruas e avenidas, dão-se com martelinhos de plástico e alho-porro nas cabeças das pessoas, principalmente nas crianças e quando os rapazes se querem meter com as raparigas solteiras.
 
Nas cidades do Porto e de Braga em Portugal, o São João é festejado com uma intensidade inigualável, sendo que a festa é, à semelhança do que acontece no Nordeste do Brasil, entregue às pessoas que passam o dia e a noite nas ruas das cidades, que são autênticos arraiais urbanos.
 
O local onde ocorre a maioria dos festejos juninos é chamado de arraial, um largo espaço ao ar livre cercado ou não e onde barracas são erguidas unicamente para o evento, ou um galpão já existente com dependências já construídas e adaptadas para a festa. Geralmente, o arraial é decorado com bandeirinhas de papel colorido, balões e palha de coqueiro ou bambu. Nos arraiais, acontecem as quadrilhas, os forrós, leilões, bingos e os casamentos matutos.
 
Festas de São João são ainda celebradas em alguns países europeus católicos, protestantes e ortodoxos (França e Irlanda,  os países nórdicos e do Leste europeu). As fogueiras de São João e a celebração de casamentos reais ou encenados, como o casamento fictício no baile da quadrilha nordestina e na tradição portuguesa que são costumes ainda hoje praticados em festas de São João europeias.
 
Na França, A Fête de la Saint-Jean (Festa de São João), tal como no Brasil e em Portugal, é comemorada no dia 24 de junho e tem, como maior característica, a fogueira. Em certos municípios franceses, uma alta fogueira é erigida pelos habitantes em honra a São João Batista. Trata-se de uma festa católica, embora ainda sejam mantidas tradições pagãs que originaram a festa.
 
As tradições juninas da Polônia estão associadas, principalmente,  com as regiões da Pomerânia e da Casúbia, e a festa é comemorada dia 23 de junho, chamada localmente 'Noc Świętojańska" (Noite de São João). A festa dura todo o dia, começando às 8h da manhã e varando a madrugada. De maneira análoga à festa brasileira, uma das características mais marcantes é o uso de fantasias, no entanto não de trajes camponeses como no Brasil, mas de vestimentas de piratas. Fogueiras são acesas para marcar a celebração. Em algumas das grandes cidades polonesas, como Varsóvia e Cracóvia, esta festa faz parte do calendário oficial da cidade.
 
Na Ucrânia, a festa de Ivana Kupala (João Batista) é conhecida como a mais importante de todas as festas ucranianas de origem pagã, e vai desde 23 de junho até 6 de julho. É um rito de celebração pelo verão, que foi absorvido pela Igreja Ortodoxa. Muitos dos rituais das festas juninas ucranianas estão relacionados com o fogo, a água, fertilidade e auto-purificação. As moças, por exemplo, colocam guirlandas de flores na água dos rios para dar sorte. É bastante comum também pular as chamas das fogueiras.
 
As festas juninas da Suécia (Midsommarafton) são as mais famosas do mundo. É considerada a festa nacional sueca por excelência, comemorada ainda mais que o Natal. Ocorre entre os dias 20 e 26 de junho, sendo a sexta-feira o dia mais tradicional. Uma das características mais tradicionais são as danças em círculo ao redor do majstången, um mastro colocado no centro da aldeia. Quando o mastro é erigido, são atiradas flores e folhas.
 
Durante a festa, são cantados vários cânticos tradicionais da época e as pessoas se vestem de maneira rural, tal como no Brasil. Por acontecer no início do verão, são comuns as mesas cheias de alimentos típicos da época, como os morangos e as batatas.
 
Também são tradicionais as simpatias, sendo a mais famosa a das moças que constroem buquês de sete ou nove flores de espécies diferentes e colocam sob o travesseiro, na esperança de sonhar com o futuro marido.
 
No passado, acreditava-se que as ervas colhidas durante esta festa seriam altamente poderosas, e a água das fontes dariam boa saúde. Também nesta época, decoram-se as casas com arranjos de folhas e flores, segundo a superstição, para trazer boa sorte.
 
Entre as brincadeiras juninas vale a pena citar:
 
Pescaria que é uma das brincadeiras mais tradicionais por ser simples, bem divertida e ganha quem pescar a maior quantidade de peixes;
 
Corrida do Saco que também é muito tradicional e consiste de uma corrida onde os participantes devem pular dentro de um saco de estopa (saco de farinha, por exemplo) e o primeiro que atingir a reta final ganha a partida;
 
Corrida do Saci-Pererê, parecida com a corrida do saco, porém os participantes devem correr apenas num pé;
 
Pau de sebo, que se trata de um tronco de árvore grande fincado no chão e é passado neste tronco algum tipo de cera ou sebo de boi. No topo do pau de sebo é colocado um brinde ou  uma nota de dinheiro, mas a maioria não consegue subir e acaba escorregando, tornando-se  uma das brincadeiras mais divertidas do arraial;
 
Quebra-pote, a preferida dos pequeninos, que nada mais é do que um pote de cerâmica fina, recheado de doces e balas, amarrado em uma trave de madeira, onde o participante, de olhos vendados, munido de um pedaço de madeira comprida tentará acertar e quebrar o pote e quando acerta todos  correm para pegar as guloseimas;
 
Correio Elegante que é a favorita dos jovens, onde os organizadores da brincadeira servem como intermediários na entrega de bilhetes com mensagens de amor, amizade, paquera ou apenas brincadeira.
 
As roupas típicas da Festa Junina estão relacionadas ao modo de se vestir dos habitantes da zona rural de décadas atrás, mas, normalmente, os homens usam calça jeans, tênis ou bota, camisa xadrez, chapéu de palha, lenço colorido, de preferência, barba e bigode desenhados a lápis e muitos retalhos costurados na calça e na camisa.
 
Já as mulheres usam vestidos decorados com renda e retalhos, lenço, flores, chapéu, batom, blush e, principalmente, pintinhas feitas a lápis nas bochechas.
 
A Festa Junina é a segunda mais importante festa popular da cultura brasileira, perdendo somente para o Carnaval. A maior Festa Junina do Brasil, ocorre na cidade paraibana de Campina Grande, reunindo milhares de pessoas todos os anos, inclusive Campina Grande possui o título de  Maior São João do Mundo, embora Caruaru esteja consolidada no Guiness Book na categoria festa country (regional) ao ar livre.
 
Santo Antônio também é considerado o santo casamenteiro e, como tal, são comuns “as simpatias” praticadas por mulheres solteiras que querem se casar.
 
No dia 13 de junho, as igrejas católicas distribuem o “pãozinho de Santo Antônio” e, segundo a tradição, o pão bento deve ser colocado junto aos outros mantimentos da casa, para que nunca ocorra a falta e para as mulheres que querem se casar, devem comer este pãozinho.
 
Entre os instrumentos musicais que hoje em dia acompanham a quadrilha, encontram-se o acordeão, o pandeiro, o violão, o triângulo e o cavaquinho. Não existe uma música específica que seja própria a todas as regiões. A música é aquela comum aos bailes de roça, em compasso binário ou de marchina, que favorece o cadenciamento das marcações, mas entre outras, citamos Cai, Cai, Balão; Isto é lá com Santo Antônio; Pula a Fogueira; Sonho de Papel; Antônio e João; Chegou a Hora da Fogueira e as canções de Luiz Gonzaga ("o rei do Baião") que são as mais tocadas.
 
Portanto, não esqueça, estamos em junho, entre um passo de forró e outro de qualquer dança típica da festa junina, você pode se divertir com as quadrilhas, fogueiras  e, como em toda a festa típica, certamente,  não faltará diferentes quitutes e comidas típicas, para contagiar o ambiente com graça, alegria e muita diversão. Aproveite!
 

O balão vai subindo, vem caindo a garoa.
O céu é tão lindo e a noite é tão boa.

São João, São João!
Acende a fogueira no meu coração.
— Sonho de Papel, Carlos Braga e Alberto Ribeiro


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