A carta que
a neta de 16 anos enviou à avó, num momento de desabafo e sem que
tenha havido qualquer briga, conflito ou enfrentamento, é um primor de
sensibilidade, para alguém tão novo e uma completa exceção quando se olha para
o comportamento da juventude em geral, na maioria das vezes, alheia aos avós e
ignorando suas atividades e interesses, vendo-os, ainda que novos e vigorosos,
como peças de museu.
Aliás, uma
das poucas coisas que me ressinto com o passar dos anos é essa postura dos
jovens de não nos ver, não nos olhar; com raras exceções, até os filhos dos
amigos nos cumprimentam sem dar qual quer atenção. Como seja tivéssemos passado
para outro planeta.
"Sei
que você não admite que lhe chame de avó e tenha instituído que nós, seus
quatro netos, a tratemos apenas pelo diminutivo de seu nome. Com isso jamais
usei esse delicioso e aconchegante "vovó". Ainda mais, não tendo
ninguém vivo do outro lado, sabe, querida Lu (nome suposto, claro), sinto certa
carência, ainda que todos julguem o máximo a nossa aproximação e intimidade.
Mas eu não
acho que intimidade seja isso, assim como não sinto a menor necessidade de
estar tão igual a você, que sempre enfatiza que podemos beber na sua frente,
fumar, e ao meu irmão e primos mais velhos, falar de sua vida sexual, sem
qualquer constrangimen to, assim como fala da sua, na condição de viúva e
independente.